A cocaína
(canção-tango, 1923) - J. B. da Silva "Sinhô"
Só o vício me traz
Cabisbaixa me faz
Reduz-me a pequenina
Quando não tenho à mão
A forte cocaína.
Quando junto de mim
Ingerida em porção
Sinto só sensação
Alivia-me as dores
Neste meu coração.
Ai, ai és a gota orvalina
Só tu és minha vida
Só tu ó cocaína.
Ai, ai mas que amor purpurina
É o vício arrogante
De tomar cocaína.
Sinto tal comoção
Que não sei explicar
A minha sensação
Louca chego a ficar
Quando a sinto faltar.
Esse sal ruidoso
Que a mim só traz gozo
Somente de olhar
E para esquecer
Eu começo a beber.
Quando estou cabisbaixa
Chorando sentida
Meio entrestecida
É que o vício da vida
Torna a alma perdida.
Louca hás de voltar
Vendo-me estrangular
Para o vício afogar
Neste toque fugaz
Que me há de findar.
Não Sei Dançar
Manuel Bandeira
Uns tomam etér, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probalidades é uma pilhéria...
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.
Sim, já perdi, pai, mãe, irmãos.
Perdi a saúde também.
É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.
Uns tomam etér, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim a este baile de terça-feira gorda.
Mistura muito excelente de chás...
Esta foi açafata...
- Não, foi arrumadeira.
E está dançando com o ex-prefeito municipal.
Tão Brasil!
De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil...
Há até a fraçaõ incipiente amarela
Na figua de um japonês.
O japonês também dança maxixe:
Acugêlê banzai!
A filha do usineiro de Campos
Olha com repugnância
Para a crioula imoral.
No entanto o que faz a indecência da outra
É dengue nos olhos maravilhosos da moça.
E aquele cair de ombros...
Mas ela não sabe...
Tão Brasil!
Ninguém se lembra da política...
Nem dos oito mil quilômetros de costa...
O algodão de Seridó é o melhor do mundo... Que me importa?
Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.
A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
Eu tomo alegria!
O Branco
por Preto Antônio Figueira
Cocaína meu amor,
A você toda minha fúria
E minha vontade de ficar só,
Não há alimento para minha fome
E ninguém moverá para mim
O chumbo da minha razão
Deusa Branca do Tédio e dos dentes trincados
Acaricia com sua tubulação de mistérios bem acordados
Minha cabeça de pombo e meu cobertor
Sei que anuncia a Água Superior
E a ovulação da Senhora árabe
Cocaína meu amor,
Estou completamente pirado
Pairando sobre a tremura fundamental
Arremessado no oco da alma
Esperando de ti a Brancura do Fogo
Para que eu abocanhe de vez o ar
E continue pedindo mais
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