domingo, 2 de agosto de 2009

Trecho do livro Über Coca de Sigmund Freud
(Extraido de Cocaine Papers editado por Robert Byck)




A planta coca



A planta coca, Erythroxylon coca, é um arbusto de cerca de 1,20m a 1,80m de altura, amplamente cultivada na América do sul, em particular no Peru e na Bolívia. Cresce melhor nos quentes vales das encostas orientais dos Andes, situados 1.500 a 2.000m acima do nível do mar, em um clima pluvial isento de extremos de temperatura. As folhas, que fornecem um estimulante indispensável a cerca de dez milhões de pessoas, tem formato oval, com 5 a 6 cm de comprimento, são pedunculadas, indivisas e pruinosas. Distinguem-se por dois vincos lineares. (...)

A Cocaína

Em 1859, o Dr. Scherzer, membro da expedição da fragata austríaca Novara, trouxe para Viena um lote de folhas de coca, alguns das quais enviou ao Prof. Wöhler para exame. Niemann, aluno de Wöhler, delas isolou o alcalóide cocaína. A cocaína se cristaliza em grandes prismas incolores do tipo monoclínico, de quatro a seis lados. Tem gosto um tanto amargo e produz um efeito analgésico nas mucosas. Lossen estabeleceu a seguinte fórmula para a cocaína: C17H24NO4.

A história e os usos da coca em seus países de origem

Quando os conquistadores espanhóis invadiram o Peru, descobriram que a planta coca era cultivada e tida em alta consideração naquele país, estando intimamente ligada aos costumes religiosos do povo. A lenda afirma que Manco Capac, o divino filho do Sol, havia descido dos penhascos do lago Titicaca em tempos primevos, trazendo a luz de seu pai para os infelizes habitantes do país; que lhes trouxera o conhecimento dos deuses, lhes ensinara as artes úteis e lhes dera a folha de coca, essa planta divina que sacia os famintos, dá força aos débeis, e faz com que esqueçam os seus infortúnios. As folhas de coca eram oferecidas em sacrifício aos deuses, mascadas durante cerimônias religiosas e até mesmo colocadas na boca dos mortos, a fim de lhes garantir uma recepção favorável no além. O cronista da conquista espanhola, ele próprio um descendente dos incas, relata que, a princípio, a coca era um artigo raro na região, e seu uso um prerrogativa dos governantes. À época da conquista, porém, há muito se tornara acessível a todos. Garcilaso empenhou-se em defender a coca da interdição que os conquistadores haviam imposto sobre ela. Os espanhóis não acreditavam nos efeitos maravilhosos da planta, que desconfiavam ser obra do demônio, principalmente me virtude do papel que desempenhavam no ritual religioso. Um concílio realizado em Lima chegou a proibir o uso da planta, sob a alegação de era pagã e pecaminosa. Essa atitude mudou, no entanto, quando os conquistadores perceberam que os índios não conseguiam executar o pesado trabalho que lhes era imposto nas monas se fossem proibidos de comer coca. Eles transigiram a ponto de distribuir as folhas aos trabalhadores três ou quatro vezes por dia, e de lhes conceder pequenos períodos de intervalo para que mascassem suas queridas folhas. E assim a planta coca tem mantido o seu lugar entre os nativos até os dias de hoje. Mesmo os vestígios da veneração religiosa que outrora lhe era dirigida ainda permanecem.

Em suas perambulações, o índio sempre carrega um feixe de folhas de coca (chamado chuspa), bem como um frasco que contem cinza da planta (ilicta). Com as folhas, ele molda, na boca, uma bola, que fura várias vezes com um espinho mergulhado na cinza, e a masca lenta e caprichosamente com abundante secreção de saliva. Segundo Mantegazza, o índio começa a usar esse estimulante na juventude e continua usando-o durante toda a vida. Quando se defronta com uma viagem difícil, quando possui uma mulher, ou, de modo geral, sempre que sua força é exigida além que o normal, ele aumenta a dose costumeira.

Existem amplos indícios de que, sob o efeito da coca, os índios podem suportar provações excepcionais e executar trabalhos pesados, sem necessitar de alimentação adequada durante todo o tempo. Valdez y Palacios afirma que, com a utilização da coca, os índios são capazes de viajar a pé por centenas de horas e correr mais depressa que cavalos, sem mostrar sinais de fadiga. Castelnau, Martius e Scrivener confirmam isso, e Humboldt, a propósito de sua viagem às regiões equatorianas, diz ser esse um fato comumente conhecido. Cita-se com freqüência o relato de Tschudi com relação ao desempenho de um cholo (mestiço) que pôde observar de perto. O homem em questão realizou um penoso trabalho de escavaca odurante cinco dias e noites, sem dormir mais de duas horas por noite, e não consumiu nada além de coca. Depois que o trabalho estava terminado, ele acompanhou Tschumi em uma viagem de dois dias, correndo ao lado de sua mula. Assegurou que de bom grado executaria de novo o mesmo trabalho, se lhe dessem coca o suficiente. O homem tinha sessenta e dois anos e nunca estivera doente.

Outros relatos acentuam a capacidade dos coqueros (mascadores de coca) de se abster de alimento por longos períodos de tempo, sem sofrer qualquer efeito desfavorável. Segundo Unanuè, quando não havia alimentos disponíveis na cidade sitiada de La Paz, no ano de 1781, só sobreviveram aqueles habitantes que comiam coca. Segundo Stewenson, os habitantes de muitos distritos do Peru jejuam, às vezes durante todo o dia, e, com o auxílio da coca, são ainda capazes de continuar trabalhado.

Considerando todos esses testemunhos, e tendo em mente o papel que durante séculos a coca tem desempenhado na América do Sul, deve-se rejeitar a opinião às vezes manifestada de que o seu efeito é imaginário e que, por força das circunstâncias e pela prática, os nativos seriam capazes de realizar as façanhas atribuídas a eles até mesmo sem o seu auxílio. Seria plausível esperar que se viesse a descobrir, um dia, que os coqueiros compensam a abstinência de alimentos comendo proporcionalmente mais durante os intervalos de seus jejuns, ou que, em conseqüência de seu modo de vida, caiem em uma rápida depauperação. Quanto à primeira hipótese, os relatos dos viajantes são conclusivos; no que concerne à segunda, isso tem sido enfaticamente negado por testemunhas fidedignas. Sem dúvida, Poeppig pintou um quadro terrível da decadência física e intelectual que se supõe ser a conseqüência inevitável do uso habitual de coca. Mas todos os outros observadores afirmam que é mais provável que o uso moderado de coca favoreça a saúde ao invés de debilitá-la, e que os coqueiros vivem até uma idade avançada. No entanto, também Weddell e Mantegazza salientam que o uso imoderado de coca leva a uma caquexia que se caracteriza fisicamente por indisposições digestivas, emaciação etc, e mentalmente por depravação moral e uma total apatia para com tudo que não esteja relacionado com a fruição do estimulante. Os brancos sucumbem igualmente a essa condição, que muito se assemelha aos sintomas do alcoolismo crônico e do vício de morfina. A coca não é ingerida em quantidades absolutamente imoderadas e nunca com uma desproporção presumível entre o alimento ingerido e o trabalho realizado pelos coqueiros.

O efeito de coca sobre animais

Nas experiências de Von Anrep, o efeito da cocaína nos animais de sangue quente, ainda que em doses elevadas, manifestou-se antes de tudo por intensa agitação psíquica e excitação dos centros cerebrais que controlam o movimento voluntário. Após doses de 0,01g de cocaína por quilo, os cães apresentam sinais evidentes de alegre excitação e uma compulsão louca a se movimentar. Nas características dessa movimentação, Von Anrep vê indícios de que todos os centros nervosos são afetados pela estimulação, e interpreta determinados movimentos oscilantes da cabeça como irritação que procede dos canais semicirculares. Outras manifestações da intoxicação da cocaína são: respiração acelerada, grande aumento do ritmo do pulso devido à paralisia inicial dos nervos vagos, dilatação das pupilas, aceleração do movimento intestinal, grande elevação da pressão arterial e diminuição das secreções. A substância do músculo estriado permanece intacta mesmo após doses suficientemente elevadas para produzir eventuais convulsões, sintomas de paralisia e morte decorrente da paralisia do centro respiratório.

Efeito de cocaína sobre o corpo humano saudável

Tenho realizado experiências e estudado, em mim mesmo e em outras pessoas, o efeito da coca sobre o corpo humano saudável. Minhas conclusões estão fundamentalmente de acordo com a descrição, feita por Mantegazza, do efeito das folhas de coca.

A primeira vez em que tomei 0,05g de cocaïnum muriaticum em uma solução de 1% de água foi quando estava me sentindo levemente indisposto devido à fadiga. Essa solução é bastante viscosa, um tanto opalescente, e tem um estranho odor aromático. A princípio, tem gosto amargo, que posteriormente cede a uma série de sabores muito agradáveis e aromáticos: o sal seco de cocaína tem idênticos cheiro e gosto, mas em grau mais concentrado.

Alguns minutos após ingerir a cocaína, experimenta-se súbita exaltação e uma sensação de leveza. Os lábios e o palato ficam saburrosos, seguindo-se sensação de calor nas mesmas áreas. Se, nesse momento, tomamos água fria, ela parece quente aos lábios e fria à garganta. Em outras ocasiões, a sensação predominante é um frescor bastante agradável na boca e na garganta.

Durante esse primeiro teste, experimentei um curto período de efeitos tóxicos, que não reapareceram em experiências subseqüentes. A respiração ficou mais lenta e profunda, e sentia-me cansado e sonolento; bocejava com freqüência, sentindo-me um tanto apático. Após alguns minutos, começou a euforia real da cocaína, iniciada por repetida eructação refrescante. Imediatamente após tomar a cocaína, notei um leve retardamento do pulso e, mais tarde, um aumento moderado.

O efeito psíquico da cocaïnum muriaticum em doses 0,05-0,10g consiste em exaltação e euforia duradoura, em nada diferente da euforia normal de uma pessoal saudável. A sensação de excitação que acompanha o estímulo por álcool esta de toda ausente; também não se verifica a característica necessidade de atividade imediata que o álcool produz. A pessoa sente um aumento do autocontrole, maior vigor e capacidade para o trabalho. Por outro lado, ao trabalhar, sente falta da intensificação das capacidades mentais promovida pelo álcool, chá ou café. A pessoa está simplesmente normal e logo acha difícil acreditar que se encontra sob efeito de alguma droga.

Isso dá a impressão de que o estado de ânimo produzido por tais doses de coca se deve, não tanto à estimulação direta, quanto ao desaparecimento de componentes que, no estado geral de bem-estar, provocam a depressão. Poder-se-ia talvez supor que a euforia resultante da boa saúde também nada mais é do que a condição normal de um córtex cerebral bem nutrido que "não esta consciente" dos órgãos do corpo a que pertence.

Esta fase de atuação da cocaína não é percebida senão pelo surgimento daqueles sintomas que tem sido descritos como o maravilhoso efeito estimulante da coca. O trabalho mental ou físico de longa duração e intensidade pode ser executado sem fadiga. É como se a necessidade de alimento, de sono, que em outras circunstâncias se faz sentir marcadamente em determinados momentos do dia, houvesse desaparecido totalmente. Enquanto perduram os efeitos da cocaína, a pessoa poderá comer fartamente sem repulsa, se instala a fazê-lo, mas tem a clara sensação de que a refeição é supérflua. De igual modo, à medida que o efeito da cocaína diminui, é possível deitar-se e dormir, mas o sono pode ser dispensado com a mesma facilidade, sem conseqüências desagradáveis. Durante as primeiras horas de efeito da coca, não se consegue dormir, mas essa insônia não é de maneira alguma penosa.

Eu mesmo experimentei cerca de uma dúzia de vezes esse efeito da coca, que afasta a fome, o sono e a fadiga e robustece a pessoa para o esforço intelectual; não tive a oportunidade de me ocupar com trabalho físico.

Um colega muito ocupado me forneceu a oportunidade de observar um exemplo impressionante do modo pelo qual a cocaína dissipa a fadiga extrema e uma sensação de fome bem justificada. Às 18h esse colega, que não se alimentava desde as primeiras horas da manhã e que trabalhava muitíssimo durante o dia, tomou 0,05g de cocaïnum muriaticum. Poucos minutos depois, declarou que se sentia como se acabasse de comer fartamente, que não tinha vontade de uma refeição vespertina e que se achava suficientemente forte para empreender uma longa caminhada.

Esse efeito estimulante da coca é a testado sem a menor dúvida por uma série de relatos fidedignos, alguns dos quais bastante recentes.

À gusa de experiência, Sir Robert Christison – que tem 68 anos de idade –cansou-se a te a exaustão, caminhado cerca de 24 quilômetros sem nada comer. Após vários dias, repetiu o procedimento, com o mesmo resultado. Durante a terceira experiência, mascou cerca de 2 dracmas de folhas de coca e conseguiu completar a caminhada sem a exaustão verificada nas ocasiões anteriores. Quando chegou em casa, apesar de ter passado nove horas sem alimento ou bebida, não sentiu fome ou sede e acordou na manhã seguinte sem se sentir absolutamente cansado. Em outra ocasião ainda, escalou uma montanha de mil metros de altitude e chegou ao cume inteiramente exausto. Fez a decida sob o efeito da coca com vigor juvenil e nenhuma sensação de fadiga.

Clemens e J. Collan tiveram experiências semelhantes –, o segundo após caminhar várias horas na neve. Mason descreve a coca como "algo excelente para uma longa caminhada". Recentemente, Aschenbrandt relatou como soldados bávaros, cansados em decorrência de privações e doenças debilitantes, foram capazes, apesar disso, de participar de manobras e marchas, após ingerir coca. Moreno y Maïz conseguiu permanecer acordado noites inteiras com a ajuda da coca. Mantegazza passou quarenta horas sem alimentar-se.

À luz dos relatos que me referi adiante, parece provável que o uso prolongado, porém moderado, da coca não seja prejudicial ao corpo. Durante trinta dias, von Anrep tratou animais com doses moderadas de coca e não constatou efeitos prejudiciais sobre suas funções físicas. Parece-me digno de nota – e descobri em mim mesmo e em outros observadores que eram capazes de julgar tais coisas – que uma primeira dose e mesmo doses repetidas de coca não provocam desejo compulsivo de utilizar mais o estimulante: ao contrário, sente-se uma aversão imotivada à substância. Essa circunstância talvez explique parcialmente por que a coca, apesar de algumas entusiasmadas recomendações, não se firmou ainda na Europa como estimulante.

Mantegazza pesquisou em si próprio o efeito de doses elevadas de coca. Consegui assim alcançar um estado de felicidade muito intensa, acompanhada do desejo de completa imobilidade. De vez em quando, porém, isso era interrompido por um violento impulso por movimentar-se. Quando ele aumentou ainda mais a dose, ficou com um sopore beato: o ritmo do pulso estava extremamente elevado, e a temperatura do corpo subira moderadamente; a fala estava embaraçada, e sua letra instável; por fim, experimentou as alucinações mais esplêndidas e coloridas, cujo conteúdo era assustador por um certo período, mas invariavelmente alegra a seguir. Essa intoxicação pela coca também não conseguiu provocar qualquer estado de depressão nos que a experimentaram, nem deixou sinal algum de que eles haviam se intoxicado. Moreno y Maïz também experimentou uma intensa compulsão a se movimentar após tomar doses bastante elevadas de cocaína. Mesmo após usar 18 dracmas de coca, Mantegazza não sofreu diminuição de consciência plena. Um químico que tentou se envenenar com 1,5g de cocaína adoeceu e manifestou sintomas de gastrenterite, mas não apresentou embotamento da consciência.

Utilizações terapêuticas da coca

Era inevitável que uma planta que alcançara tamanha reputação por seus efeitos prodigiosos em seu país de origem fosse utilizada para tratar as mais variadas indisposições e doenças do corpo humano. Os primeiros europeus que tomaram conhecimento desse tesouro da população nativa foram também incondicionais em sua recomendação da coca. Com base em larga experiência médica, Mantegazza elaborou posteriormente um relato sobre as propriedades terapêuticas da coca, as quais receberam, uma a uma, reconhecimento de outros médicos.

A coca como estimulante

Sem dúvida a principal utilização da coca continuará sendo a mesma que há muitos séculos os índios têm feito dela: tem valor em todos os casos em que o objetivo primordial seja o de aumentar a capacidade física do corpo por um determinado e curto período de tempo, e conservar a energia para fazer face a novas demandas - especialmente quando as circunstâncias externas eliminam a possibilidade de descanso e da alimentação normalmente necessários ao grande esforço. Situações desse tipo ocorrem em tempo de guerra, em viagens, na prática de alpinismo e outras expedições, etc – de fato, são situações em que, o valor dos estimulantes alcoólicos também é recomendado. A coca é um estimulante muito mais potente e muito menos prejudicial que o álcool e, no momento, a sua utilização ampla esta sendo impedida apenas em razão do elevado custo. Tendo em mente os efeitos da coca sobre os nativos da América do Sul, uma autoridade tão antiga quanto a de Pedro Crespo (Lima, 1793) recomendou a sua utilização pelas quadras européias; Neudörfer (1870), Clemens (1867) e o major médico da Europa; e as experiências de Aschenbrandt não devem deixar de atrair a atenção dos administradores de exércitos para a coca. Já ressaltei o fato de que não há estado de depressão quando os seus efeitos se desfazem.

No momento, é impossível avaliar com alguma certeza até que ponto se pode esperar que a coca aumente as capacidades mentais humanas. Tenho a impressão de que o uso prolongado de coca pode levar a uma melhoria duradoura, se as inibições manifestadas antes de tomá-la são devidas apenas a causas físicas ou à exaustão. Efetivamente, o efeito instantâneo de uma dose de coca não pode ser comparado ao de uma injeção de morfina, mas do ponto de vista racional não há perigo de dano geral ao corpo, como é o caso da utilização crônica de morfina.

Muitos médicos acharam que a coca desempenharia um papel importante, ao preencher uma lacuna no receituário dos psiquiatras. É um fato notório que os psiquiatras dispõem de um farto suprimento de drogas para reduzir a excitação dos centros nervosos, mas nenhum que possa servir para aumentar o funcionamento reduzido dos centros nervosos. Por conseguinte, a coca tem sido prescrita para os mais diversos tipos de debilidade psíquica – histeria, hipocondria, inibição melancólica, estupor e enfermidades semelhantes.

E. Morselli e G. Buccola realizaram experiências que envolviam a administração sistemática de cocaína, durante meses, a pacientes melancólicos. Administraram um preparado de cocaína em injeções subcutâneas, em doses que variavam de 0,0025-0,10g por dose. Após um a dois meses, comprovaram uma ligeira melhora no estado de seus pacientes, que se tornaram mais felizes, alimentaram-se e gozaram de digestão normal.

A coca como afrodisíaco

Os nativos da América do Sul, cuja deusa do amor era representada com folhas de coca na mão, não duvidavam do efeito estimulante da coca sobre a genitália. Mantegazza confirma que os coqueiros mantêm um alto grau de potência até a velhice. Ele fala mesmo de casos de restabelecimento da potência e desaparecimento de debilidades funcionais após o uso da coca, embora não acredite que a coca produza tal efeito em todos os indivíduos. Marvaud sustenta enfaticamente a opinião de que a coca tem um efeito estimulante. Outros autores recomendam-na vivamente como um remédio par debilidades funcionais ocasionais e exaustão temporária; Bentleu descreve um caso desse tipo, quando a coca foi responsável pela cura.

Dentre as pessoas a quem eu administrei a coca, três relataram violenta excitação sexual, prontamente atribuída a ela. Um jovem escritor, a quem o tratamento com a coca possibilitou retomar o trabalho após uma enfermidade prolongada, deixou de utilizar a droga em decorrência dos indesejáveis efeitos secundários que exercia sobre ele.

Aplicação local da coca

A cocaína e seus sais têm acentuado efeito anestésico quando, em solução concentrada, entre em contado com a pele e a mucosa. Essa propriedade indica o seu uso ocasional como anestésico local, especialmente em relação a afecções da mucosa. Segundo Collin, Ch. Fauvel recomenda vivamente a cocaína pra tratar enfermidades da faringe, descrevendo-a como "lê tenseur par excellence des cordes vocales". De fato, as propriedades anestésicas da cocaína devem torná-la adequada a muitas outras aplicações.

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