terça-feira, 28 de setembro de 2010


Mark Twain & a cocaína


Mark Twain (1835-1910) foi batizado com o nome de Samuel Clemens e cresceu na fronteira americana, no apogeu da expansão para o oeste. Assim como Hunckleberry Finn, sua maior criação literária, Mark Twain deu as costas à educação formal e “pôs o pé na estrada”, vivendo histórias picarescas e adquirindo conhecimento a partir de suas observações de pessoas e lugares.

Os dias de boêmia terminaram com o casamento, em 1870, que o colocou em contato com a sociedade burguesa. Mudou-se para uma casa de classe alta em Connecticut, estabeleceu família, escreveu livros e viajou como palestrante. Durante os 25 anos seguintes, Twain criou os seus principais personagens, adolescentes rebeldes como Tom Sawyer, Hunckleberry Finn e Puddinhead Wilson. O público das obras de Mark Twain era maior do que o de todos os escritores americanos antes dele. Como Dante, ele escrevia diretamente para as pessoas comuns, usando uma linguagem que todos entendiam.

A tragédia pessoal (perda da esposa e de dois de seus filhos) e os fracassos nos negócios, juntamente com uma profunda consciência do materialismo e do oportunismo militar que infestavam a fronteira do oeste depois que ela foi colonizada, transformaram o escritor num homem extremamente cínico. Suas obras posteriores de pornografia e sátira, que anteciparam o humor negro, o existencialismo e o movimento punk, contrastam radicalmente com a inocência e o otimismo de suas primeiras obras. Muitos de seus escritos contra o sistema foram mantidos em segredo por sua filha, para resguardar a família de maiores constrangimentos.

Quando adolescente, Mark Twain leu o popular romance de viagem à America do Sul (Exploration of the Valley of the amazon, 1854), escrito pelo oficial da marinha William Herndon, cuja descrição dos poderes miraculosos da cocaína motivou Twain a querer ser o primeiro importador da folha desse estimulante para a América.
No entanto, ao descer para New Orleans e começar sua aventura, Mark Twain acabou tornando-se piloto de barco a vapor no rio Mississippi. Posteriormente, foi à próspera cidade de São Francisco, no oeste selvagem, onde encontrou Fitz Hugh Ludlow, um jovem escritor com reputação de ser o “DeQuincey americano”.

Um dos amigos mais íntimos de Twain foi o seu dentista, doutor John Manley Riggs, que era sócio de Horace Wells, a primeira pessoa a usar com êxito o óxido nitroso (gás hilariante) como anestésico cirúrgico. Twain impressionou-se muito com a experiência de alteração da consciência provocada pelo gás hilariante – os saltos cômicos do ridículo para o sublime -, conforme atesta em seu ensaio Happy memories of the dental chair.

Timothy Leary, Flashbacks, surfando no caos

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